
Na manhã desta quarta-feira (21), indígenas da etnia Pataxó bloquearam a estrada que dá acesso ao vilarejo de Caraíva, em Itaporanga, no extremo sul da Bahia. O protesto é uma resposta direta à recente decisão judicial que determinou a reintegração de posse de uma área rural em Trancoso, atualmente ocupada pela comunidade indígena da Aldeia Lagoa Doce.
A disputa gira em torno de aproximadamente 179 hectares, uma área tradicionalmente habitada por indígenas Pataxó, segundo registros da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que apontam a presença desse povo no território desde o início do século 19. Apesar disso, a Justiça negou o pedido de manutenção de posse feito pela comunidade conhecida como Família Braz, que vive na região.
A decisão favorece a empresa Itaquena S/A – Agropecuária, Turismo e Empreendimentos Imobiliários, pertencente ao empresário Moacyr Costa Pereira de Andrade. Cônsul honorário de Portugal, Moacyr é apontado por movimentos sociais e lideranças indígenas como um dos maiores grileiros de terra da Bahia. Ele também dirige a Agro Pastoril Itaquena, e figura como protagonista em diversas disputas fundiárias na região.
A área em questão faz parte da cobiçada Praia de Itaquena, localizada dentro dos limites da Fazenda Itaquena, cuja valorização no mercado imobiliário alcança cifras milionárias. Nas últimas décadas, Moacyr tem contestado a posse indígena sobre o território, alegando que a área integra sua fazenda particular.
O protesto desta quarta-feira escancara não apenas o conflito territorial, mas também a tensão crescente entre comunidades indígenas e o avanço de interesses econômicos sobre áreas de ocupação tradicional. Lideranças Pataxó afirmam que resistirão à tentativa de retirada e prometem novas mobilizações caso a decisão não seja revista.